quarta-feira, 1 de abril de 2020

REALISMO


01. Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas)
Machado de Assis escreveu uma vasta e variada obra, sobre a qual podemos afirmar:
I. É permeada pelo pessimismo do autor - evidente na declaração que abre a questão - aliado a uma fina ironia e aguçado senso crítico.
II. Inclui contos, poemas e romances, e supera estilos e modas, sendo uma literatura com características próprias e únicas.
III. Como ficcionista, inicia-se no Romantismo e evolui para o Realismo, porém ultrapassa as limitações de escolas literárias e tem em Memórias póstumas de Brás Cubas seu livro-marco, a partir do qual se inicia a fase mais profunda e madura do autor.
IV. Seus personagens não são seres extraordinários, nem procedem de maneira heroica. O autor não se interessa pela descrição do exterior, mas penetra nas consciências dos personagens, revelando a verdade de cada um deles.

Está(ão) correta(s):
a) I.
b) I e III.
c) II, III e IV.
d) III.
e) I, II, III e IV.

02. Leia as informações abaixo e assinale a alternativa que traduz a situação histórica do Realismo:

a) O sentimentalismo e o confessionismo comparecem na poesia como na prosa, ratificando a força que assume a individualidade, o culto do eu e mesmo o narcisismo. Os sentimentos são intensificados, as emoções são hiperbólicas, razão e o equilíbrio se ausentam a fim de possibilitarem a fluência da intimidade. Por isso mesmo o amor, o gosto pela solidão, o exagero, a morte e a dúvida existencial constituem lugar comum no registro poético.

b) Valorização do imediato e do cotidiano, que se concretiza mediante textos, tanto poéticos, ficcionais, aderentes à realidade atual e vivida, independentemente de qualquer status preconcebido literariamente. Tudo passa a ser, em princípio, matéria de arte, fato que é atestado inclusive pela importância que se atribui à crônica e ao conto. Neste sentido, parece ter sido enorme o influxo das técnicas jornalísticas na área de criação estética.

c) Em resumo, a ideologia pode ser sintetizada da seguinte forma: no plano social e econômico - o progresso técnico, as facilidades de transporte, o domínio da burguesia, o crescimento das cidades, as reivindicações operárias, o liberalismo e o socialismo em formação e o desenvolvimento; na moral - o livre pensamento, o ateísmo e o fatalismo; nas ciências - o experimentalismo, o fisiologismo, o positivismo e o materialismo.

d) Seus pressupostos são de natureza relativista e individualista. O ponto de que parte, quanto à observação da realidade, é que esta não se submete a uma visão racional e, em consequência, a beleza não pode resultar de uma perspectiva intelectualizada do real. Além disso, defende um conceito de poesia alienado da realidade onde não são acatados valores que não sejam exclusivamente poéticos, ou seja, valores sociais, políticos, morais, etc.

e) A ficção se afirma, paralelamente à poesia, e novos gêneros passam a impor-se no gosto do público. É o caso do romance, cuja importância é, desde então, crescente. Cria-se o romance histórico, em que, com elementos trazidos da pesquisa do passado, se restauram ambientes perdidos passados no tempo, personagens e situações que, mantendo relativo vínculo com a realidade passada, ilustram sentimentos atuais.

03. Leia com atenção, o seguinte fragmento extraído das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis para responder a questão.

       "(...) eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; (...)
       Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova:
       '- Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul com um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói a natureza as mais íntimas estranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.'
       Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country (país não-descoberto) de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido."

Considere as seguintes afirmações sobre o uso da linguagem nesse fragmento do texto de Machado de Assis.
I. O texto exemplifica a linguagem padrão tanto no nível mais formal, o do discurso fúnebre, quanto no mais distenso, afetivo mesmo, a descrição da chuva na hora do sepultamento.
II. Na primeira frase do fragmento, há um jogo verbal em que a mudança da ordem sintática estabelece mudança de significado relevante para as intenções do narrador.
III. Nessa parte do romance, Machado de Assis valeu-se apenas do discurso direto na construção com o foco narrativo de primeira pessoa.

São corretas as afirmações:
a) I, II e III.
b) I e II, somente.
c) I e III, somente.
d) II e III, somente.
e) nenhuma.


GABARITO

01. E

02. C

03. B

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